quinta-feira, 23 de junho de 2016

O vinho sem frescuras!


Antes de tudo o vinho é uma bebida e assim deve ser entendida, mas uma bebida recheada de vida, cultura e história



Tenho vivenciado de perto nestes últimos 10 anos um pouco da evolução do vinho brasileiro. São inúmeras participações em eventos, lançamentos, degustações, avaliações e proximidade de produtores e enólogos. É notável a evolução do que encontramos ao abrir uma nova garrafa, pois muita coisa melhorou, seja o cultivo do solo, o trato para com as videiras, a tecnologia mais avançada nos equipamentos,  a expertise que foi se formando,  o marketing, a dedicação dos envolvidos mas principalmente o entendimento de como todas estas engrenagens funcionam juntas. E qual o sentido deste engajamento todo? O consumidor. Ele é a razão de ser de todo e qualquer produto ou serviço. Talvez este seja ainda o que resta a desvendar para, que de uma vez por todas, o vinho brasileiro dê aquele passo mais largo no sentido de dados estatísticos mais favoráveis, afinal, onde entra algo chamado “preço” mais o verbo “vender” o que passa a reger a sinfonia é o número a ser entregue. E neste momento a paixão, a dedicação e o afeto que os trabalhadores do vinho tem sobre suas criações possuem o cordão umbilical cortado e necessitam ser comunicadas, precificadas e vendidas. É assim que as vinícolas se mantém, é assim que se postergam ao longo do tempo e evoluem – salvo raras exceções onde vinhateiros fazem vinhos para seu consumo e de seus pares como hobby, sem a necessidade de serem levados ao mercado.

É importante termos isto claro para então avançarmos mais um bocado. O consumo per capita de vinhos no Brasil não chega a 2 litros/ano por habitante, um índice muito baixo mas que reflete o raio X de nossa população, acostumada com outras bebidas como cerveja e cachaça, principalmente pela cultura do baixo preço. E destes quase 400 milhões de litros consumidos no ano, praticamente menos de um quarto refere-se a vinho fino, os demais são vinhos de mesa. Infelizmente por um sem número de razões tributárias e de custo produtivo, um vinho fino brasileiro com alguma qualidade chega ao consumidor iniciando em torno de R$ 20,00 a garrafa de 750 ml e daqui se multiplica geometricamente. Ou seja, não é uma bebida que se encaixe no orçamento da absoluta maioria da nossa população. Quem sabe o olhar das vinícolas deva ser sobre a minoria populacional que alcance tal investimento, um mercado a ser impactado com muita presença junto ao consumidor até mesmo para desmistificar que vinho – pelo posicionamento de produto adotado pelas próprias vinícolas – é elitista. E se faz derradeiro a necessidade de oferecer cada vez mais por menos. Vinho é uma bebida viva, é cultura, se molda ao estado de espírito de quem o degusta, é prazer, mas evidentemente é encarado de forma diversa a bebidas industrializadas de larga escala e de valores mais módicos. Mas pode isto sim, deixar a frescura de lado e tornar-se um parceiro para muitos momentos, sem compromisso seja com etiqueta ou com a opinião alheia. 

Vinho brasileiro, seja você mesmo!   
      
        

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