sábado, 23 de junho de 2012

Uruguai muito além de Tannat, parrilla e doce de leite

(Uruguay mucho más allá del Tannat, la parrilla, y del dulce de leche)

O avião Bombardier da Pluna pousa suavemente no Aeroporto de Carrasco. Logo no taxiamento deixa para trás as velhas instalações do antigo terminal e aproxima-se de um dos fingers do novíssimo aeroporto da capital uruguaia. Na fila da imigração três elegantes e articuladas uruguaias de idades variadas conversam com muita propriedade sobre o jogo do final de semana da “Celeste”, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de Futebol de 2014 no Brasil, entre Uruguai e Peru, no mítico Estádio Centenário. Uma delas comenta de uma experiência tida em uma recente ida a um restaurante de culinária indiana no bairro de El Pocito. E esta é uma prévia da Montevidéu que me esperava, mais cosmopolita e descolada, mas sem perder a elegância quase européia forjada por centenas de anos de colonização espanhola.

As bodegas

O município de Canelones – colado a Montevidéu - abriga uma centena de vinícolas, lá chamadas de bodegas, muitas datadas do século XIX e que produzem excepcionais vinhos com a casta ícone do Uruguai, a Tannat, mas também com espaço para manifestações vitivinícolas a partir de outros varietais como o Cabernet Franc, o Petit Verdot, a Marselán, o Merlot e ótimos exemplares de Sauvignon Blanc, casta plenamente adaptada ao terroir platino. Entre as bodegas destaque para a Varela Zarranz produtora de um espumante brut nature de nível superior e do excelente blend Guidaí Detí, composto pelas castas Tannat, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc; a Juanicó envasadora da multipremiada linha Prelúdio e do primeiro Licor de Tannat do Uruguai; a Antigua Stagnari e seu Merlot Osíris, um digno representante desta variedade; a Carrau e sua ampla gama de rótulos e tipos de uva com destaque para a linha Juan Carrau e ao top Amat;  e a Bouza, bodega-boutique, que além do ícone Monte Vide Eu, um corte de três varietais, engarrafa o único Alvarinho da região e um Tempranillo Parcela Única de exceção. Muitas bodegas possuem caves – local onde armazenam-se as barricas para o vinho repousar – com quase duzentos anos de existência e as suas instalações lembram estâncias platinas, rodeadas de árvores centenárias, construções antigas e vinhedos muito bem cuidados.     



   



Os restaurantes

Montevidéu representa o que há de melhor no Uruguai no tocante a gastronomia. Punta del Este continua sendo o xodó quando se fala de restaurantes “in” mas a capital é mais globalizada e populosa, e por isso a diversidade mais ampla. O uruguaio consome muita carne bovina – cerca de 60 kg per capita/ano (para se ter uma idéia no Brasil é de 35 kg/ano) - e por conta disto as parrillas são encontradas praticamente em todas as esquinas. Mas a gastronomia fusion – aquela que envolve técnicas e pratos recheados de ecletismo – surge muito forte e emblemática em ótimos restaurantes: o Francis tem nos frutos do mar a sua especialidade, sendo o trio composto de peixes diferentes cada qual em um molho um dos mais pedidos da casa; o Walrus aposta nas tendências descoladas, servindo sashimi seguido de ragú preparado em baixa temperatura; o Tandory mistura velho mundo com novo mundo, oriente com ocidente, numa composição saborosíssima elaborada pelas mãos mágicas do chef Gabriel Coquel. Em contrapartida o Facal resgata o tradicional chivito e a pizzeta uruguaia, numa releitura calcada em qualidade, abusando dos tomates importados da Itália e no bifinho de carne da raça Angus.  E o Mercado del Puerto é um ponto mais que tradicional, pois lá é possível provar o Medio-medio, uma bebida que mistura vinho branco e espumante, tradicionalíssimo no Uruguai (sinceramente lembra muito o filtrado doce da Serra Gaúcha) e também – como não há como deixar de ir – degustar a famosa parrillada uruguaia ou mesmo uma paella espanhola preparada com frutos frescos e abundantes.





A cultura

        
O Teatro Solis de construção finalizada em 1856 é um monumento a atratividade do uruguaio por cultura. As grandes colunas servem de anfitriãs aos mil e duzentos lugares da capacidade, distribuídos em cinco andares ovalados de frente a um multipalco que recebe espetáculos internacionais em sua extensa agenda anual. Numa das extremidades do prédio abriga-se o luxuoso Restaurante Avis Raris, que contempla uma das maiores cartas de vinhos do país. Na outra, um espaço dedicado a vida do monumento e das apresentações ali efetuadas.

Para quem acha que o Brasil é o país do Carnaval seria bom olhar para o lado, pois os hermanos montevideanos possuem um Carnaval que dura 45 dias, iniciando em final de janeiro e se estendendo até metade de março, com desfiles, apresentações ao ar livre e competições de murgas – o equivalente a nossos blocos de rua – com muita influência do “candombe”, um ritmo que chegou ao Uruguai graças aos escravos vindos da África, e que continua sendo ouvido nas ruas, nos becos e nas marchinhas daquele país. Para contar a história deste ritmo africano e deste evento festivo anual, Montevidéu possui o Museu do Carnaval, localizado bem ao lado do Mercado del Puerto, na zona portuária.          
  

Também o Ballet Nacional del Sodre, originário da década de 30 e que foi ponto de partida na construção da dança uruguaia,  leva aos apreciadores desde então, apresentações periódicas de dança clássica a todo o Uruguai.  Sob a mão diretiva do Maestro Alberto Pouyanne houve a primeira apresentação, denominada “Noite Nativa” e inspirada em elementos folclóricos platinos. Com o passar dos anos e com a presença de bailarinos e professores europeus, o balé se incorporou a vida de Montevidéu, dando acesso a todos para presenciar espetáculos grandiosos. Atualmente está instalado no novo Auditório Nacional Adela Reta recentemente reaberto sob a direção do maestro Julio Bocca e denominado Sodre Companhia Nacional de Bailado. Também pelo balé, a cultura uruguaia permanece viva e dinâmica.


A Fortaleza do Cerro localizada no topo do Cerro Montevidéu é parada obrigatória para aqueles que buscam um pouco de história sobre a conquista espanhola na América do Sul. Ela abriga o Museu Militar General Artigas com exposição permanente de uniformes, canhões e outros artigos de guerra e possui uma vista privilegiada do Rio da Prata e da Baía de Montevidéu.



O futebol

O uruguaio é fanático por futebol e pela “Celeste”, como chamam a Seleção do Uruguai, atual campeã da Copa América e bicampeã do mundo em 1950, justo em cima do Brasil e em pleno Maracanã. Mulheres, homens e crianças, todos sem exceção, falam sobre futebol, escalações, jogos e resultados. Na memória recente, o dramático jogo contra Gana, na Copa do Mundo de 2010, que colocou a celeste nas semifinais daquele certame, ficando em quarto lugar. O gigante Estadio Centenario é o palco para apresentação da Seleção e também dos clássicos entre Peñarol e Nacional, os maiores clubes do Uruguai. Construído para a Copa de 1930, sediada no país, possui capacidade para 66 mil pessoas, mas já colocou 100 mil torcedores em alguns jogos no passado. Dentro do estádio há o Museu do Futebol, que conta a história sobre sua construção e dos grandes clássicos jogados. Na década de 80 foi declarado pela FIFA “Monumento Histórico do Futebol Mundial”.


Não bastasse toda a vasta agenda enogastrocultural cabe ressaltar ainda o principal fator de ligação entre tudo o que se vê e se sente por lá: o povo uruguaio. Sua cordialidade, educação e atenção principalmente a nós, brasileiros – e não só pela questão econômica, pois o Brasil importa praticamente um terço de tudo que é produzido no Uruguai, mas pelo carinho que carregam para conosco -  faz com que nos sintamos em casa, na varanda, como se batêssemos um papo ao final da tarde, em portunhol clássico, com um vizinho de longa data!        

         Na volta uma mala carregada de vinhos, novos amigos, ótimas lembranças e a certeza de que o Uruguai vai muito além de tannat, parrilla e doce de leite!

As belas construções das bodegas e suas vinhas ao fundo 


Vinho e vinho


O cosmopolita e o histórico 


A mesa posta, o Uruguai e sua tradição gastronômica


Montevidéu e suas ruas 


Escolha

Este colunista viajou a convite de Los Caminos del Vino da Asociación de Turismo Enológico de Uruguay e do Conglomerado de Turismo de Montevideo.

Artigo publicado no jornal Gazeta do Sul de hoje.

Abaixo seguem endereços e lincks dos locais visitados:

Hotel Esplendor (Soriano 868)
Tel.: 2900-1900

Antigua Bodega Stagnari
Tel.: 2362 2137- 099 664 450

Restaurante Tandory
(Libertad 2851, esq. Massini)
Chef. Gabriel Coquel
Tel.: 0945 967 35

Teatro Solís
(Bs. As s/n Esq. Batrolomé Mitre)
Tel.: 1950 3323/25 int. 110.

Restaurante Walrus (WTC – Plaza de las Torres)
Tel: 099 167 814

Establecimiento Juanicó
Tel: 094 365 918 - 4335 9725

Restaurante Francis
(Luis de la Torre 502 esq. Montero)
Tel: 093 900 111

Museo del Carnaval
(Rambla 25 de Agosto de 1825 nº  218)
Tel: 099 110 807

Restaurante Facal
(18 de julio1249, esq. Yí)
Tel: 099 228 386

SODRE
Tel: 099 303 067

Viña Varela Zarranz
Tel: 2364 4587

Bodega Carrau – Colón
Tel: 2320 0238 - 099 917 129

Bouza Bodega Boutique
Tel: 2323 4030 - 2323 7491 int 103

Los Caminos del Vino
Asociación de Turismo Enológico de Uruguay




  
+598 99 149 662

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