quarta-feira, 18 de março de 2015

Eu, o Lula e o Romaneé-Conti


O mítico vinho francês Romanée-Conti transita ostentação entre os ricos, os corruptos e os sortudos!



Minha primeira vez não foi igual ao do ex-presidente Lula. Nem seria para tanto, afinal de contas temos pouquíssimas semelhanças, quiçá nenhuma. O fato é que segundo contam quando prestes a ser eleito em seu primeiro mandato em 2002, na noite após o último debate presidenciável antes das eleições, do qual o então ex-sindicalista saiu vitorioso Lula, Antonio Palocci e o publicitário Duda Mendonça se reuniram em um restaurante italiano no Rio de Janeiro para comemorar o desempenho no debate com “pão e vinho”. O vinho em questão era um Romanée-Conti 1997, um dos vinhos mais caros e cobiçados do mundo, um vinho das elites degustado pelo representante do povo. Se o vinho foi pago por ele, por seu marqueteiro, com recursos da campanha ou por Palocci que estava de aniversário não vêm ao caso, pois esta narrativa não propõe o mérito de quem pagou, mas sim de quem bebeu o RC.

Pois bem, minha história com o Romaneé-Conti iniciou pelas mãos de uma amiga, ex-colega de MBA que trabalha em um dos mais tradicionais restaurantes de Porto Alegre. Pois bem, estava eu numa segunda-feira nublada e fria na capital gaúcha e sedento por um bom restaurante cuja opção fora o acima lembrado. Não imaginava que o mesmo fora dos ascendentes desta colega a não ser pela coincidência de tê-la visto por lá e nos reconhecermos. Depois de um papo de recordações e risadas logo o assunto foi vinho, do qual a adega do restaurante é muito bem reconhecida. Por lá se encontram com facilidade garrafas que beiram dez, quinze, vinte mil reais! Minha pergunta fora se tais vinhos possuíam uma considerável demanda e qual minha surpresa que a resposta foi sim, possuem. Entre o público consumidor, jogadores e alguns técnicos de futebol, empresários e políticos (sempre eles!). Neste seleto rol, figura um conhecido cliente da casa, habituê de Romanné-Conti, o mítico vinho da Borgonha. Minha amiga chamou a um garçom e solicitou que trouxesse algo à mesa, logo atendida o homem descobriu com um guardanapo de pano uma garrafa da safra de 1998, cuja rolha havia sido reposta e pouco mais de 2 dedos do vinho faltavam a garrafa. “Nosso cliente pediu este vinho no almoço de hoje e disse que não estava à contento? Tu que és um conhecedor de vinhos podes bebê-lo e me dizer o que achas?” decretou a moça deixando-me com a garganta seca tamanha responsabilidade. Atestar a condição de um Romaneé-Conti, um vinho a partir de R$ 20.000,00, cuja história eu só havia acompanhado pela literatura na condição de “conhecedor”? Enfim, não pude pestanejar, manti-me firme e passado o baque da surpresa, empurrei para o lado a taça do já fantástico Cartuxa Évora 2001 que bebia, servi-me de meia taça do RC e respondi tranquilamente: “Mas é claro!”.  Batimentos acelerados, pingo de suor na testa, fez-se a avaliação. Vinho impecável! Agradecimentos ao caro cliente por ter recusado tamanha jóia! Depois da sobremesa, uma dose de cachaça, afinal, essa história merecia ter como digestivo o destilado.

             
Mas que vinho é esse?


O Romanée-Conti é um dos vinhos mais emblemáticos, caros, cobiçados e exclusivos do mundo, sonho de consumo de xeiques, governantes, milionários e apreciadores em geral. Carrega consigo a ostentação do status de poder e riqueza. Em 1131, o Duque de Borgonha cedeu suas terras ao Mosteiro de Saint-Vivant que passou a produzir vinhos e em 1790, o já famoso vinhedo foi vendido a Louis-François de Bourbon, príncipe de Conti, cuja denominação Domaine de la Romanée-Conti é datada de 1794. A denominação La Romanée é uma referência aos romanos que chegaram ao berço da Borgonha. De 1911 em diante a propriedade dos vinhedos pertence a família Villaine. Segundo o crítico Robert Parker, o vinho possui “aromas celestiais e surreais” e é como “uma mão de ferro em luva de veludo”, aliando complexidade estrutural e convidativa maciez. Os apreciadores de vinho são divididos em dois grupos: os que provaram o Romanée-Conti e os que morrerão sem sentir-lhe o bouquet. O Brasil – pasmem - é o décimo consumidor mundial deste nobre produto, consumindo cerca de 80 caixas por ano. Um dos maiores compradores deste vinho é Paulo Maluf que coleciona Romanée-Conti das mais variadas safras.


A cada safra apenas entre 4 e 6 mil garrafas são produzidas e o Romanée-Conti é vendido em caixas de 12 garrafas onde apenas uma delas é o próprio, sendo as demais denominadas La Tache,  Richebourg, Grands Échézeaux, Échézeaux, Romanée-Saint-Vivant e Le Montrachet. Algumas safras podem chegar facilmente a mais de 20 mil dólares a garrafa e quadruplicar o valor em pouco mais de dez anos. O vinho deixou de ser produzido de 1946 a 1952, pois durante a Segunda Guerra, os produtos químicos e a mão-de-obra necessária para proteger o vinhedo da praga que ataca as raízes chamada phylloxera sumiram e as vinhas apodreceram e foram arrancadas, sendo recuperadas mais tarde com enxertos ou raízes americanas.  Por conta disto as safras Romanée-Conti até 1945 podem valer quantias astronômicas.


Baco fala:


O Domaine de la Romaneé-Conti 1998 é um vinho tinto elaborado 100% com uvas Pinot Noir de cultivo biodinâmico e agricultura de precisão, produzido na região de Borgonha, na França, com apenas 6.000 garrafas por safra. De coloração rubi claro, muito brilhante possui lágrimas médias e chorosas. Aromas fechados no início, mas com um pouco de tempo aparecem frutas vermelhas (cereja e morango) e negras (cereja negra e ameixa), nuances florais principalmente violetas, também mineralidade bem destacada, umidade, couro e tostado. Boca com muita estrutura e complexidade, seca e salivante. Taninos finos e redondos, muita persistência e excepcional retrogosto. Inigualável! Estagia cerca de 20 meses em barricas de carvalho francês. Potencial de guarda até 2030 e 13% de graduação alcoólica. Um vinho deste porte não deve ser harmonizado com nenhum alimento, somente com ele mesmo!

O importador www.vinhosmillesimes.com.br traz os DRC ao Brasil por valores conforme a safra.

O Domaine de la Romaneé-Conti

Vinhedos 

Albert de Villaine, proprietário

6 comentários:

  1. Muito bom seu post! Um deleite! Parabéns

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    1. Boa tarde! Por um problema no blogger somente hoje consegui ter acesso aos comentários gerados pois muitos não apareciam em minha página, por isso perdoe-me a falta de resposta. Obrigado! Fantástica experiência!

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  2. Que história incrível! Simplesmente incrível...
    Minha primeira experiência com um Pinot Noir da Borgonha foi um pouco frustrante: Domaine Roger Belland Bourgogne Pinot Noir 2013. Mas talvez fosse eu quem não estivesse "pronto", e não o vinho. :O)

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    1. Boa tarde! Por um problema no blogger somente hoje consegui ter acesso aos comentários gerados pois muitos não apareciam em minha página, por isso perdoe-me a falta de resposta. Obrigado, lugar certo na hora certa! Cuidado com PN franceses que chegam a nós, nem sempre de boa qualidade!

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  3. Desculpe o tardio comentário,mas não pude terminar a leitura por total falta de sintaxe e alguns erros grotescos de pontuação.o texto não funciona. Parei na segunda feira nublada e fria!!!! Cuja opção era ???????????????????????????????????

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    1. Boa tarde! Por um problema no blogger somente hoje consegui ter acesso aos comentários gerados pois muitos não apareciam em minha página, por isso perdoe-me a falta de resposta. Que pena que não foste adiante.

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