quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Dal Pizzol Cabernet Sauvignon safra 1985


O Brasil tem condições de ter vinhos de guarda?
 
No ensolarado domingo dia 30 de setembro, em recente visita com colegas jornalistas de todo o Brasil, por ocasião da XX Avaliação Nacional de Vinhos, a belíssima e encantadora Vinícola Dal Pizzol, fomos "desafiados" por Dirceu Scotta, enólogo da casa, a degustarmos um dos vinhos mais antigos da Enoteca da vinícola que guarda preciosidades desde a sua fundação: um Cabernet Sauvignon safra 1985. Todos se entreolharam desconfiados e curiosos a responderem uma pergunta: será que há condições de termos vinho de guarda no Brasil?
As duas garrafas do cabernet sauvignon 1985
Acompanhados do sr Antônio Dal Pizzol fomos até a cantina bebericar um ótimo espumante brut rosé e alguns rótulos da casa. As duas garrafas do CS 1985 - sim, não foi uma, mas duas garrafas - acordavam de seu sono dentro do decanter, arejando e voltando a vida, depois de 27 anos de sono profundo!
 
A mostra de uma ótima estrutura ainda em taça
Com todo o cuidado, Dirceu serviu-nos após o almoço, taça a taça sob olhar incrédulo do grupo. Logo se percebeu um vinho ainda muito límpido, brilhante, cor rubi com halo atijolado, lágrimas rápidas e médias. No nariz, por incrível, ainda percebia-se o frutado, claro, já trazendo frutas vermelhas maceradas, maduras, passadas. A madeira estava bem presente - hoje em dia a vinícola não passa nenhum de seus vinhos pela madeira, mas lá naquela época usava grapia revestida como reservatório de seus primeiros vinhos - e ainda algumas especiarias, pimenta e marsala sopravam ao nariz assim como compota de frutas. Ao provar, em boca já não apresentava mais a acidez e taninos, pois a idade já os tinha levado. A madeira apresentou-se novamente, alguma fruta passada também, pouco de herbáceo e tímido balsâmico, mas ainda percebia-se corpo e estrutura. Ou seja, para nossa surpresa, um vinho absolutamente bebível, macio e agradável!
 
O rótulo se foi, mas o vinho continuou!
A conclusão praticamente foi unânime, pois se naquela época, com a expertise disponível 30 anos atrás, ainda com o conhecimento na elaboração dos vinhos e o entendimento do terroir engatinhando, e mais, com pouquíssima tecnologia produtiva, tivemos como resultado um vinho, que segundo o colega Álvaro Galvão, se tivesse rótulo francês ou italiano levantaria reverberantes aplausos. Com tanto conteúdo, imagine os vinhos da década passada, safra 2005 por exemplo, a serem bebidos daqui há vinte e poucos anos, evidentemente que com todo o know-how adquirido e de se esperar apenas uma resposta: sim, o Brasil pode ter vinhos de guarda!

E fica registrado os meus saudosos parabéns a Dal Pizzol, ao senhor Antônio, por guardar engarrafada a memória de sua vinícola!

 
A Dal Pizzol:

Localizada no distrito de Faria Lemos, distante cerca de 13 km do centro de Bento Gonçalves, na estrada que leva ao município de Cotiporã, a Vinicola Dal Pizzol surge encravada entre os morros, no alto do vale. De imediato chama a atenção o belíssimo lugar, todo gramado, recheado de construções rústicas e ornamentado com equipamentos históricos ligados a produção vinícola. Também é possível encontrar pavões, gansos, cisnes, coelhos e inúmeros pássaros pela propriedade, contribuindo para a ambientação lúdica.
Centenas de garrafas com boa idade descansam na Enoteca
O ponto alto é a Enoteca da vinícola, que acomoda em seu interior centenas de rótulos muito antigos alguns ainda datados da primeira safra, como um Cabernet Franc 1978. Outro projeto que chama muito a atenção é o intitulado Vinhos do Mundo, um cultivar composto por mais de 160 varietais de 23 países. Todos estes vinhos serão engarrafados e experimentados na busca de novas opções produtivas.
A vinícola produz um ótimo moscatel

Cabernet Franc 1978 - o vovô da adega!
O Projeto Vinhos do Mundo
160 varietais de 23 países
Até mesmo o enlace da videira com a guia sugere ares bucólicos! 
Pausa para o espumante!

A bela propriedade
 
Saiba mais sobre os vinhos da Dal Pizzol acessando www.dalpizzol.com.br

E lembre-se: se beber, NÃO DIRIJA!

 

4 comentários:

  1. Emerson, minha única dúvida é quanto à madeira, pois fermentou na grapia, depois, garrafa pelo que entendi, mas comungo da opinião, estava muito bom ainda, apesar dos 27 anos de idade
    Abraços de luz
    Álvaro Cézar Galvão

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  2. Realmente Álvaro, ótima percepção a sua! Belo espécime, belos vinhos, bela vinícola, belíssima companhia! Abraços

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  3. Prezado Emerson, é sempre bom ouvir noticias sobre vinhos brasileiros de qualidade. Porém, quero fazer um adendo, grandes críticos e enologos rejeitados, porque defendem vinhos não mercadológicos, sempre falaram que nosso terroir é para vinho de guarda. Pois bem, ai está a prova.

    Abraços
    primusvinho.blogspot.com.br

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  4. Pedro, com certeza guardados em muitas adegas, devemos ter alguns belíssimos vinhos, muitos provenientes da obstinação destes mesmos enólogos!!!
    Abraço caríssimo!
    Att
    Emerson Haas

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