quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Taninos globalizados!


 André Larentis – enólogo da Vinícola Larentis – alçou vôo e foi especializar-se num dos grandes produtores vitivinícolas do mundo: os Estados Unidos! Acompanhe o que descobriu por lá!

O vinho brasileiro vêm buscando cada vez mais espaço nos cálices por este mundo afora num trabalho árduo por parte dos produtores de busca de qualidade e posicionamento cada vez mais reconhecidos, o que sabe-se não é fácil, tendo em vista a concorrência ferrenha que envolve o segmento. Os investimentos vão além de melhoria na agricultura cada vez mais de precisão, tecnologia produtiva, marketing e enoturismo. É preciso olhar aqueles que fazem o vinho acontecer no Velho Mundo – donde há uma série de condições favoráveis para tal cultura e mercado – e no Novo Mundo, principalmente nos mercados que além de grandes consumidores também possuem excelência em produção, caso dos Estados Unidos. E foi esta excelência que despertou o interesse do jovem enólogo André Larentis, 24 anos, da vinícola homônima localizada no Vale dos Vinhedos em Bento Gonçalves em buscar o aperfeiçoamento e o diferencial competitivo para o seu negócio, por meio de uma inserção full time no “american way of wine”. André passou quase 4 meses dentro de uma vinícola e conheceu mais de 50 outras no Nappa Valley, principal região produtora americana. Segue um pouco de suas percepções desta incursão e dos conhecimentos que agregou!       

Eu, Gourmet: Como foi a sua rotina nesta incursão aos Estados Unidos?

André Larentis: Fui para o EUA dia 12 de agosto e passei quase 4 meses trabalhando. Durante o período de estagio eu vivia na casa dentro da propriedade da vinícola Rombauer que está localizada na cidade de Santa Helena no Napa Valley. Eu trabalhava de 8 a 12 horas por dia, principalmente durante a safra no mês de outubro. Eu era responsável por um setor de tanques onde tinha que desempenhar todas as atividades envolvidas com os vinhos durante o processo de fermentação.  Nos finais de semana me dedicava a conhecer a região do Napa Valley e Sonoma onde pude visitar quase 50 vinícolas! E muitas de minhas horas livres eram usadas para leitura de excelentes livros sobre vitivinicultura e enologia. Eu dividia a casa com outros enólogos da Espanha, da África do Sul, da Argentina e do Chile, o que também colaborou para a troca de experiências profissionais.

EG: De onde surgiu a ideia de passar este tempo por lá?


AL: Era um sonho que tinha desde que entrei no Curso Superior de Viticultura e Enologia, pois sempre admirei muito o trabalho que os produtores de vinhos realizaram na região do Napa Valley, uma região considerada “novo mundo” como o Brasil, mas que se desenvolveu muito e rápido.

EG: O que você absorveu no tocante a viticultura: técnicas, inovações, plantio que possa ser usado na Larentis?

AL: Minha ideia era conhecer a respeito das técnicas, tecnologia e a filosofia dos produtores da Califórnia. Algo que gostei muito foi o jeito pragmático com que os americanos conduzem os processos. Pude ver muitas novidades relacionadas à tecnologia aplicada principalmente dentro da vinícola e isto sem dúvida vai me ajudar a aprimorar os processos realizados na minha vinícola.

EG: Como você avalia a qualidade do vinho americano e atual momento daqueles produtores?

AL: Como em todas as regiões produtoras existem os mais variados níveis de qualidade. A indústria vitivinícola nos EUA é grande e muito competitiva, não diferente de outros setores, mas se recuperou rápido após a crise de 2008 e tem crescido nos últimos anos. Iniciar um empreendimento exige altos investimentos em função da grande valorização das terras no Napa Valley, porém produtores que já estão inseridos estão indo bem.

EG: Os EUA estão muito na frente do Brasil quando a questão é Vinho?

AL: A indústria vitivinícola nos EUA é madura e estável, possuiu suas variedades renomadas e reconhecimento internacional. Mas a grande questão é que os americanos já passaram por um processo de disseminação da cultura do vinho e hoje estão perto de atingir o consumo de 11 litros per capita em um país com mais de 300.000.000 de pessoas. Isto é muita coisa e garante aos produtores a venda de mais de 80% dos vinhos produzidos no próprio mercado interno.

EG: Qual foi o fato relacionado ao vinho que mais lhe chamou atenção em seu estágio?

AL: Uma das experiências mais marcantes relacionadas ao vinho que tive, foi no almoço de final de safra, onde o proprietário da vinícola compartilhou conosco vinhos de sua adega particular, verdadeiras raridades, vinhos de safras antigas produzidos nas mais tradicionais regiões do mundo e obviamente da Califórnia também. Foi uma degustação única!

EG: Qual foi o melhor vinho americano e prato que você – apreciador de churrasco e uva Merlot -  provou por lá?

AL: Niebaum-Coppola Rubicon 1979 Red Blend. E o prato foi o Macaron and Cheese!  

EG: O Brasil - e em especial o RS tem ainda como melhorar seus vinhos? Qual seria o caminho para isso?

AL: Sem dúvida! O grande desafio no meu ponto de vista é melhorar a qualidade média geral dos vinhos aqui produzidos. Já existem vários produtores fazendo trabalhos diferenciados, mas ainda temos um longo caminho no desenvolvimento sustentável da região.

EG: Quando a safra não é tão boa, de que forma o enólogo consegue elaborar bons vinhos?

AL: A ideia é utilizar práticas e técnicas a fim de minimizar os aspectos negativos da safra. Neste quesito a sensibilidade do enólogo é muito importante para poder acompanhar o processo e identificar as etapas onde ele pode agir de forma positiva e tomar decisões mais assertivas.

EG: Como a Vinícola Larentis está posicionada no atual mercado de vinho?

AL: Como uma empresa familiar que possui foco no cultivo de vinhedos e elaboração limitada de vinhos do segmento premium.  

EG: Quais novidades a Larentis está por lançar no mercado?


AL: Em breve teremos a segunda safra do nosso vinho ícone, o Mérito! Uma produção muito limitada de apenas 2.000 garrafas e elaborada somente em safras excelentes.



É através deste tipo de atitude que podemos observar que o vinho brazuca tem um amplo leque de oportunidades pela frente, para isso basta ter humildade em saber que não se conhece tudo; coragem para sair do quadrado e buscar inovação; interesse em melhorar cada vez mais e foco global: pés aqui e cabeça no mundo! 


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