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O cara era um conquistador nato! Algo como uma reencarnação de Casanova... Exímio nas palavras, marcante nos gestos e sedutor no olhar, despertava antes de tudo curiosidade nas meninas que não se enrubeciam em observá-lo. As ocasiões sociais eram o seu alvo predileto, pois ali, no meio daquela oferta toda, imaginava-se dentro de uma grande adega, envolvido pelos mais variados vinhos, de diversos anos, cepas e cortes. Olhava as mulheres como se analisasse o rótulo de uma garrafa, muitas vezes tentando ler até as letras miúdas da composição de cada uma. E - como se estivesse num ritual - ia aos poucos tratando a garrafa, vendo-a de todas as perspectivas e imaginando o que o seu interior poderia revelar. Quando chegava as vias de fato, com muita delicadeza ia retirando a rolha da garrafa "despindo-a" e deixava o aroma invadir o ambiente. Se fosse ruiva, o ar condicionado climatizava em 16 graus, se fosse loira – afinal os brancos devem ser degustados gelados – regulava em 10 graus e, se fosse morena, provava em temperatura ambiente.
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Gostava de sentir os aromas que inundava-lhe as narinas trazendo aromas de baunilha, frutas vermelhas, um pouco de carvalho e muitas vezes frutas cítricas. Cada mulher conquistada era harmonizada com um vinho e o sacana guardava a rolha e ficava cheirando por horas, lembrando do retrogosto de cada uma. E como um bom vinho, sabia que a mulher desnuda, arejada, ficaria melhor e mais saborosa, se antes de ser bebida descansasse por alguns minutos, apenas com um pouco de brisa no gargalo. E ao provar, deixava aquele sabor inundar-lhe as papilas gustativas, por ora um malbec expressivo e marcante na ponta da língua e outras vezes como um rioja que rolava a língua e explodia na garganta, liberando todo um prazer indescritível, de sabor longo e permanente.
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E assim muitas rolhas foram colecionadas. Até mesmo a Sandrinha, uma mulher divina que todos queriam ter, o sonho de toda mãe como nora. Castanha de cabelos encaracolados e fartos, de pele dourada e com um perfume muito particular, notas de madeira, talvez couro – ele preferia denominar “pele” – e tutti-frutti. Beijo forte e molhado, carregado de taninos maduros e muito encorpada! Hummmm!, um legítimo Syrah! E eis que ele seduziu a Sandrinha!Começaram a bater papo defronte uma gôndola de supermercado, na seção de patês, e o conhecimento dele sobre a ambigüidade relativa da exitação contemporânea sob o ponto de vista do romantismo eclético a deixou de pernas para o ar. Levou-a para casa.
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E a Sandrinha era tão maravilhosa, mas muito maravilhosa, que de tão maravilhosa que era, tirou-o do seu habitual e acostumado ritual de “descoberta” levando-o a pular etapas e indo direto à degustação. Quando levou-a à boca e sorveu daquele pecado em forma de lábios, descontrolou-se. A inquietude e a ansiedade tomaram conta de sua absoluta frieza. E uma conta das bem grandes! Os taninos daquela moça que pareciam macios eram duros feito pedra; o cheiro que era frutado não representava o sabor amargo e hostil; a baunilha transformou-se em açúcar queimado e as frutas vermelhas apodreceram. O encanto virou desencanto. Decepcionado concluiu que ao invés de um Syrah deve ter pego um Hermitage... Tentou livrar-se daquele porre mas a dor de cabeça veio forte no outro dia, pulsante como o coração de britadeiro e pesado como um trilho de trem. E, ainda, o gosto de creolina na boca marcou-o para o resto da vida.
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Aprendeu a lição: os vinhos que são comprados apenas pelo rótulo bonito podem dar uma enorme dor de cabeça no outro dia. Depois disso abandonou a bebida. Nunca mais bebeu. Hoje, apenas os charutos lhe atraem...
Hehehe
ResponderExcluirSensacinal...
Uma crônica deliciosa..
Abraço
Marcos E. Baumhardt