quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

À moda sueca...


 
Comer diariamente pratos diferentes e sob outra cultura pode despertar uma vontade inverossímil de voltar ao básico!

O Mathias é um amigo de infância, criado nos campos de futebol do interior de Lajeado que, depois, profissionalizou-se e chegou a elite do futebol gaúcho, sendo vendido ao futebol sueco, para o IK Värnamo, representante da cidade homônima na terceira divisão daquele futebol escandinavo. Quando lá chegou, demorou a acostumar-se com o frio, a neve e os costumes diferentes afinal, estava num país totalmente distinto do Brasil.
 
Dono de um futebol eficiente e vigoroso, logo tornou-se conhecido pela cidade, até mesmo porque se destacava naquele universo de loiros de olhos azulados, pois era negro, alto e atlético, figura que chamava prontamente a atenção por onde passava, principalmente do público feminino, pois para aquele povo ele era quase exótico. Muito focado, no início, peregrinava do estádio para o hotel e vice-versa, alternando apenas quando havia concentração e viagens para os jogos.
Depois de alguns dias, durante um final de semana de folga, resolveu sair curtir a noite junto com um argentino seu colega de time, numa naquelas baladas nórdicas. E, por lá, o “exotiska”, como o povo de lá o chamava, acabou se envolvendo com uma sueca escultural, loira, olhos verdes claros, pelinhos dourados assim como a sua pele, seios voluptuosos e alta - quem sabe acima de um metro e oitenta - dezenove aninhos, lábios suculentos e dentes brancos como a neve.
Após alguns goles de destilado e muita música eletrônica, a jovem bárbara convidou-o para ir a sua casa passar o resto da noite, aquecidos sob o cobertor de pele de rena. E o Mathias foi-se, um pouco relutante afinal, como bom zagueiro que era. Ao acordar no outro dia e dirigir-se ao banheiro no corredor, deparou-se com um senhor, de toalha em punho secando os cabelos, que cordialmente o cumprimentou. Surpreso, regressou ao quarto e não vendo mais a sua nova amiga, vestiu-se e desceu às pressas a escada quando foi surpreendido mais uma vez: em volta da mesa na varanda, um casal um pouco mais velho, um menino e a sueca tomavam café, descontraidamente. Estático, quase não ouviu o convite para sentar-se, mas foi.
Tomou café com os pais e o irmão; a loira escultural vestida somente com babydol, preparou-lhe um belo smörgås (fatia de pão, guarnecida com queijo e fiambre); a família deu risadas; ele recebeu um beijo na porta e partiu direto para a concentração. Estupefato comentou com os colegas do clube e soube que aquilo tudo era costume no lugar – a mulher perfeita, o estranho dormindo na casa, o café com a família no dia seguinte – e que mais coisas ele descobriria com a vivência.
Duas semanas mais tarde, nova folga e a balada parecia o programa mais convidativo. Foi-se! Novamente uma sueca escultural – mais bela que a primeira – aproximou-se, embebedou-o, seduziu-o e levou-o para a sua casa. Após uma noite caliente - mesmo com a temperatura lá fora beirando vinte graus negativo - ao amanhecer, sentiu um outro corpo se permeando entre o dele e o da deusa loira, era a irmã dela, ainda mais espetacular que a primeira e esta segunda suecas juntas, um tributo a beleza feminina, nua em pelos e sedenta por um encontro carnal. Eis que teve que ir para o segundo tempo da partida com este outro adversário fazendo uma marcação corpo-a-corpo, num jogo desigual de duas suecas contra um pobre atleta provinciano.
 
Jogo encerrado, desceu o Mathias, acomodou-se sonolento à mesa, de um lado o pai, do outro dois meninos gêmeos e a sua frente as divas loiras. Chegou a mãe, em poucas vestes deixando à mostra muitas partes da fábrica que deu origem aquelas nórdicas - e olha...Que fábrica! – serviu-o de café e, num rampante, deu-lhe um estalado beijo na boca. Desconcertado o rapaz empurrou a cadeira, deu um pulo, saiu correndo da casa, do clube e da Suécia.
Aquilo tudo era muito diferente para ele!
Voltou ao Brasil, afinal de contas, provar um prato de alta gastronomia internacional vez em quando até que podia ser bom, mas para o Mathias, rapaz de princípios, nada substituía um bom arroz e feijão tradicional!

E tradicional como o Mathias, é a receita própria para a data que se aproxima, o Bacalhau de Natal!


Ingredientes:
(para 4 pessoas)

600 g de lombo de bacalhau dessalgado e escorrido
Dois dentes de alho picadinho
Uma cebola picadinha
Salsinha picadinha
Três ovos mexidos
Três colheres de maionese
Vagens verdes
Meia xícara de azeite de oliva extra virgem
Uma xícara e meia de leite

Preparo:

Coloque o bacalhau no leite por cerca de uma hora. Misture com os ovos todos os demais ingredientes menos as vagens e o oliva. Escorra o bacalhau e salteie em fogo alto em parte do azeite. Coloque um fio de azeite em um refratário e leve ao forno aquecido a 200 graus por dez minutos. Retire, cubra com a mistura e leve novamente ao forno por mais dez minutos. Neste meio tempo, aqueça azeite de oliva numa frigideira, tempere as vagens com sal e pimenta e em fogo alto salteie as mesmas até murcharem levemente. Sirva as vagens e sobre elas o bacalhau.

Artigo publicado na gazeta do Sul de hoje.
 
Um Feliz Natal a todos!

2 comentários:

  1. Meus parabéns Chef Haas, estou encantada com seu Blog (bom gosto acima de tudo) e também quero agradecer pelas receitas maravilhosas - já fiz o palmito assado na grelha, ficou sublime! Aproveito para desejar um Feliz Natal e um Ano Novo de muitas realizações - que Deus o abençoe com muita saúde e criatividade para novas criações.Um grande abraço,_________________LL

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    1. Obrigado pelas palavras Luciah López! É uma satisfação receber retornos como o seu! Feliz Natal e maravilhoso 2013 para vc e família!

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