domingo, 12 de janeiro de 2014

Deusas Nórdicas


Um amigo comentou-me sobre uma ilha na Bahia que era o point do momento: gente bonita, turistas do mundo todo, baladas até o amanhecer, paisagens paradisíacas. Estávamos em 2004. Lá parti para Morro de São Paulo, ilha há duas horas de catamarã do píer de Salvador, para estada de uma semana. Havia reservado uma pousada bacana, com vista para a praia número 1 e próxima da Rua do Centrinho, ruela que concentrava lojinhas e alguns restaurantes. O primeiro desafio foi recuperar-se do enjôo do barco, afinal o mar revolto não contribui muito para que a travessia fosse plenamente saudável... O alento é que eu não era o único a passar mal, turistas israelenses, espanhóis e ingleses que me faziam companhia na nave também penduravam-se pelos entornos mareados pelo balanço do mar, embalados todos pelo som de um Axé Music de raiz! Como companhia duas integrantes da Seleção de Handebol italiana puxavam papo num portuitalianouol improvisado, fascinadas pelo Brasil e suas diversidades. Na chegada a ilha, outra surpresa, os maleiros carregavam as bagagens em carrinhos de mão, pois os veículos eram proibidos por lá, complementando o ar bucólico do lugar.
 
Instalado na pousada e recuperado da travessia a coisa a se fazer era explorar o lugar, investigar suas possibilidades, sua história e tudo de bom que aquele esplendor poderia oferecer-me durante aqueles prazerosos dias de sunga e sandália. Enquanto aproveitava o fim de tarde na beira da praia estirado entre guarda-sóis que abrigavam uma das maiores concentrações de turistas estrangeiros por metro quadrado do Brasil chamou-me atenção um animado jogo de vôlei, na quadra de areia, que envolvia não uma, mas sim várias garotas deslumbrantes, todas loiras, pelas bronzeadas que comunicavam-se efusivamente numa língua diferente de tudo o que eu havia escutado até então, acompanhadas num jogo misto com garotos de mesma linhagem. Passei observar tudo com um interesse quase jornalístico, até o sol baixar e o jogo findar, com seus players recolhendo-se no entremeio dos casarios da ruela principal.
 
De volta a pousada, uma surpresa: todo o belo contingente que roubou a cena do pôr-do-sol na praia no jogo de vôlei encontrava-se ali, na beira da piscina, aproveitando o momento para refrescar-se do exercício físico interposto na praia! Sim, hospedados na pousada estava o grupo, seis mulheres e três homens, noruegueses, entre 22 e 24 anos, formados em direito que - fugindo do clima ártico de seu país - refugiaram-se no calor brasileiro e trouxeram consigo dois professores orientadores a tiracolo, onde, durante seis meses, elaborariam suas teses de mestrado, intercalando períodos de estudo concentrados na pousada e outros de descontração, curtindo as coisas boas que só a Bahia poderia oferecer!  E foi neste contexto que aleatoriamente eu acabei pousando naqueles dias, no colo daquelas deusas nórdicas loiras esculturais, de olhos verdes, corpos altos e esguios de anatomia perfeita, traços lindos e enrustidas de muito sex appeal. Aquelas herdeiras de Odin com seus lábios carnudos, pele bronzeada, suas cinturas finas e peles sedosas, suas unhas finamente adereçadas e seus olhares hipnotizantes paralisavam-nos pobres mortais mundanos.  

Não tardamos a nos relacionar, iniciado já no dia seguinte no vôlei de praia, afinal, desfalcados de um componente, as duplas masculinas não hesitaram a me incluir nas partidas sempre acompanhadas de pequeno público evidentemente não motivado pelo interesse na técnica dos jogadores mas sim - arrisco-me a dizer - pelas propriedades das charmosas cheerleaders improvisadas a beira da quadra.  
O idioma não foi problema, mesmo não sabendo norueguês – uma língua extremamente complexa e difícil por sinal – todos falavam inglês e alguns arranhavam o espanhol, com exceção de um dos rapazes que já havia feito um intercâmbio no Brasil e razoavelmente entendia português, o qual serviu-me de interlocutor em momentos de aperto junto ao grupo.

Pois bem, jogos de vôlei de praia, banhos de mar e de piscina, bate-papos descontraídos, os dias iam passando abençoados por aquela beleza radiante emanadas das mestrandas do Valhalla, até que algo inusitado chamou minha atenção: não havia notado em nenhum momento a presença de álcool entre o grupo. Nada! Nem sequer uma tradicional caipirinha, cartão de boas vindas a qualquer estrangeiro recém aportado em nosso país tupiniquim. Um espanto, afinal, sabe-se que os países nórdicos são contumazes consumidores de bebidas alcoólicas, por cultura contra o frio e suas mazelas. Ninguém bebia! O ritual era sempre o mesmo: reuníamos para jantar nos restaurantes da ilha, eu entre uma taça de vinho e outra, eles e elas entre um guaraná e outro, e depois de muita conversa e risadas, saíamos todos juntos, eles de volta a pousada e eu a saciar minha curiosidade pela ilha, numa daquelas noites inspirados a conhecer as famosas baladas de MSP, iniciadas sempre muito tarde, já de madrugada. E qual a minha surpresa ao adentrar num dos estabelecimentos e deparar-me com uma inesquecível visão: embaladas pela música eletrônica, sob uma mesa, as minhas amigas norueguesas dançando alucinadamente, acompanhadas de long necks de cervejas e drinks, completamente enlouquecidas pela batida observadas por um séquito de marmanjos incrédulos! O norueguês, meu interlocutor, confidenciou-me que todas as noites elas protagonizavam o “show”, bebiam até serem carregadas de volta a pousada.

Não demorei a entender, não devia ser nada fácil olhar-se no espelho diariamente e visualizar tanta perfeição, pois e afinal de contas, ser uma Deusa Nórdica!    
  
 

                                     


 

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